Nota: Versão portuguesa mais abaixo.
Annee Tromp [2012]
This
is part of a series of posts inspired by real life people around me that at
some point touched me with their words. For more information on this project
click here
As a child, I always played movies in mind when
I was trying to fall asleep. In general I daydreamed the whole time, but at
night it was a sacred ritual. It all started as a defense mechanism, because I
used to have so many nightmares. So I learned that if I chose the “movie” I
wanted to play in my head before falling asleep it was easier to avoid bad
dreams.
It was as if I’d popped a tape into my VCR (yes,
I’m that old), actually that was exactly what I used to tell my mother “the
tape is on”, and then basically I’d mentally watch as much as I could before
drifting off to sleep.
The stories started simple, but over the years
they became more and more complex. The characters would occasionally be
replaced, but a lot of them carried on for years, becoming my loyal
friends. I can’t pinpoint exactly when
this started, but the oldest stories I can remember are from when I was in
first/second grade. I don’t have nightmares anymore, but I’m still a terrible
sleeper, and to this day, this is the only way I can fall asleep.
I've always thought that I had an overactive mind, everything serves as inspiration, never a resting moment. Most times it makes life more interesting, it doesn’t matter if I’m waiting for the bus or having a long walk, inside my head there’s never a dull moment. I can observe people for hours, just imagining who they are, what they do, how they are feeling. My creativity allows me to have imaginary friends that never leave my side, and thoughts of change and hope for better and more interesting days.
They say that creative people are different, that they see the world from a different perspective, but it’s not all sunshine and rainbows. Sure it’s nice to be able to retreat to the safe place in your head whenever you need, but daydreaming to this degree means you are never 100% anywhere. There’s always a part of you that is left there, in your parallel universe. You often get lost in time and space, you just shut off. It’s not always intentional or visible, but when the ideas start flowing nothing else really matters. Inspiration can come at anytime, anywhere, and when it arrives you just can't ignore it. You also get bored easily, you try not to, you know life can’t be exciting all the time, but your mind needs to be constantly stimulated. You try not to lose interest, you try to keep paying attention and eventually you notice that you were trying so hard to focus, that you lost whatever was happening entirely.
I just can’t keep the thoughts from coming in… which is probably why I can’t sleep. I’m often told that I need to lose control. Like it’s that simple, like it's a switch you can just turn on or off. Maybe for some people it is, but not when you have a creative mind constantly shouting 10.000 things that could go wrong if you do. When your mind runs 200 miles/hour everything has to be planned, there’s no room for spontaneity. When every delay’s a reason to jump to the worst possible scenarios, you second guess every move, analyze every feeling, read into every single action.
It’s very demanding, exhausting even, I get overstimulated quite often, when there’s too many people, too much noise… There’s always too much going on in my brain, but I can’t control that, because how do you run from things that are inside your head?
It’s a love/hate relationship. There are moments I just want to shut it all down, give it a rest, for once take a break, but at the same time I don’t think I could live without it. Because, as a child I might have daydreamed to avoid nightmares, but as I grew up the stories in my head became vital to cope with the things I couldn’t deal in real life.
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“Não há descanso para as mentes criativas”
Annee Tromp [2012]
Annee Tromp [2012]
Este
texto faz parte de uma série de publicações inspiradas por pessoas reais à
minha volta, que em algum momento me tocaram com as suas palavras. Mais
informações sobre este projecto aqui
Quando era miúda, assistia filmes
na minha cabeça enquanto tentava adormecer. Em geral, passava os dias a sonhar
acordada, mas à noite era um ritual sagrado. Tudo começou como um mecanismo de
defesa, porque tinha muitos pesadelos. Com o tempo acabei por aprender que se
escolhesse o “filme” que queria ver na minha cabeça antes de adormecer
conseguia evitar os sonhos maus.
Era como se pusesse uma cassete
VHS no vídeo (sim, sou desse tempo), aliás era exactamente isso que dizia à
minha mãe “vou pôr a cassete”, e depois basicamente assistia mentalmente o mais
que pudesse até acabar por sucumbir ao sono.
Inicialmente as histórias eram
simples, mas com o passar dos anos foram-se tornando mais complexas. As
personagens ocasionalmente eram substituídas, mas muitas mantiveram-se ano após
ano, tornando-se leais amigos. Não sei exactamente quando tudo começou, mas as
histórias mais antigas que me lembro são de quando estava na primeira/segunda
classe. Hoje em dia já não tenho pesadelos, mas ainda sou péssima a dormir, e
até hoje só consigo adormecer assim.
Sempre achei que tinha uma mente
híperactiva, tudo serve de inspiração, nunca um momento de descanso. A maior
parte das vezes isso torna a vida mais interessante. Não importa se estou à
espera do autocarro ou numa longa caminhada, dentro da minha cabeça nunca há um
momento aborrecido. Sou capaz de ficar a observar pessoas durante horas,
simplesmente a imaginar quem são, o que fazem, o que estão a sentir. A minha
criatividade permite-me ter amigos imaginários que nunca me abandonam, e
pensamentos de mudança e esperança para dias melhores e mais interessantes.
Dizem que as pessoas criativas
são diferentes, que veem o mundo de outra perspectiva, mas nem tudo são raios
de sol e arco-íris. Claro que é bom poderes refugiar-te na tua cabeça sempre
que é preciso, mas sonhar acordado a este nível significa que nunca estás a
100% em lado nenhum. Há sempre uma parte de ti que fica lá, nesse teu universo
paralelo. Perdes-te no tempo e no espaço com frequência, simplesmente desligas.
Nem sempre é intencional ou visível, mas quando as ideias começam a fluir nada
mais interessa. A inspiração vem a qualquer altura em qualquer lugar, e quando
chega não consegues ignorá-la. Aborreces-te facilmente. Tentas que não
aconteça, sabes que a vida não pode ser excitante o tempo todo, mas a tua mente
precisa de ser constantemente estimulada. Tentas não perder o interesse, tentas
tomar atenção e acabas por perceber que tentaste tanto manter a concentração
que o que quer que seja em que te devias estar a concentrar acabou por te
passar ao lado.
Não conseguido impedir os pensamentos
de chegar… provavelmente é por isso que não durmo. Oiço com frequência que
devia perder o controlo. Como se fosse assim tão simples, como se se tratasse
de um interruptor que podes ligar ou desligar. Talvez seja para algumas
pessoas, mas não quando tens uma mente criativa que constantemente te grita
10.000 coisas que podem correr mal se o fizeres. Quando a tua mente corre a 300
km/h tudo tem de ser planeado, não há espaço para espontaneidade. Quando
qualquer atraso é razão para saltar para os piores cenários possíveis, duvidas
cada gesto, analisas cada sentimento, questionas cada acção.
É muito exigente, esgotante até.
Sinto os meus sentidos sobrecarregados com alguma frequência, quando há gente
demais, demasiado barulho… Há sempre demasiado a acontecer no meu cérebro, mas
isso não posso controlar, afinal… como é que foges de algo que está dentro da
tua cabeça?
É uma relação de amor/ódio. Há
momentos que só quero desligar tudo, ter um momento de descanso, fazer um
intervalo, mas ao mesmo tempo acho que não conseguiria viver de outro jeito.
Porque se enquanto criança sonhava acordada para afastar os pesadelos, quando
cresci as histórias na minha cabeça tornaram-se vitais para lidar com o que não
consigo encarar na vida real.
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