Monday, March 30, 2020

Something you have changed your mind about / Algo sobre a qual mudaste de opinião (Day 9)


Note 1: While being quarantine, in an effort to try to prevent my brain to turn into mush I'll try to complete a 30 Day writing challenge. Each day I'll get a prompt about which I should write.

Nota 2: versão portuguesa mais abaixo.



I started paying more attention to words when I was about 14/15 years old. I started actually listening to the songs I’d hear, I started scribbling down quotes I’d read in books or hear in movies and eventually began to write more regularly.

Back then I didn’t spend much time at home, and I was proud of my independence. I didn’t have anyone looking over my shoulder, checking my schedules or my school work, I made my own plans with friends, I stayed out of trouble, so I mostly I lived my life without anyone really paying too much attention to me.

Somewhere along the way I started to feed into that and somehow consciously giving little information about myself or my life unless specifically asked. I wouldn’t lie or hide anything, I just wouldn’t necessarily volunteer it either. So, while my friends parents knew all of their kids’ friend’s names and exactly who we are, I’d usually just mentioned I was going out with friends, while when traveling my friends would call home at least once a day, I’d pride myself of not calling for a few days. As a defense mechanism or not, I started to feed into this “independence” guide line where I lived with people, I had friends and family I cared about, but in reality, I didn’t need anyone.

As I was saying, that’s when I started finding more comfort in words, I couldn’t always describe my thoughts, even less my feelings, but I’d fall in love with quotes that could. My notebooks from those years are full of quotes like “Never depend on anyone but yourself”1, “You only know as much about me as I want you to know and your concern, though touching, is wasted on me”2, “People will let you down, sooner or later they all will… it’s not like they want to, it’s just their nature”3, “Better learn to go it alone, recognize you're out on your own, nobody's on nobody's side”4, “I’ve always been interested in people, but I’ve never liked them.”5

I was, for all purposes, a well-adjusted kid, I had good grades, I was part of a sport’s team, I had plenty of friends, I lived well in the presence of others, but I didn’t exactly live well with them. It was like a parallel dimension, we were next to each other, but I never let my intimacy be touched.

I can’t precise exactly when, but I built a wall around me and I was proud of it, I mistaken my detachment with independence, my armor with strength. I’d rationalize every event, compartmentalize the emotions related to the people who got in and out of my life, and I’d convince myself that I was always fine, because I didn’t need anyone. And I must have told myself that so much over the years, that it got to a point I stopped questioning it.

That’s how it was for years, and then little by little I started noticing little things…

I noticed that whenever I traveled, my fondest memories were those of the people I’d met.

I noticed that unlike a lot of other people who had had similar experiences, I was one of the few who kept regular contact with the friends I’d met abroad.

I noticed that one of my biggest struggles, from a very young age, had been seeing pain and not know how to take it away.

I noticed that I’d cope well with being away, but that I enjoyed reencounter people.

I noticed the power little gestures such as a smile, a wink or a hug could have.

I noticed that the people I looked up too for being strong and independent were not detached or cold, that more than their self-sufficiency, what really draw me to them was their vulnerability and their empathy.

And that changed my perspective, that completely changed my mind, because I realized that what I’d proudly wear as independency was nothing more than a shield, and that real empowerment came not with distancing oneself from people but with the ability to harmoniously join life with others. Does that mean that I suddenly became more open, or willing to share my vulnerability? Well… it’s a work in progress.

1 & 2 Andrea Parker as Catherine Parker In Pretender
3 Autoria própria
4 Idina Menzel as Florence Vassy In Nobody’s on nobody’s side - Chess: In Concert
5 W. Somerset Maugham

Algo sobre a qual mudaste de opinião 


Nota 3: Enquanto estou em quarenta, e numa tentativa de impedir que o meu cérebro se transforme em papa vou tentar completar um desafio de escrita de 30 dias. Cada dia terá um tópico sobre o qual deverei escrever.


Comecei a dar mais atenção às palavras por voltas dos 14/15 anos. Foi nessa altura que comecei realmente a ouvir o que as músicas diziam, a rabiscar frases que lia em livros ou ouvia em filmes e, que comecei a escrever de forma mais regular.

Nessa altura passava pouco tempo em casa, e orgulhava-me muito da minha independência. Não tinha ninguém constantemente a supervisionar-me, a controlar os meus horários ou trabalhos da escola, fazia os meus planos com os meus amigos, não arranjava problemas, e por isso ia fazendo a minha vidinha sem que ninguém me prestasse particular atenção.

Com o tempo eu própria fui começando a alimentar essa ideia e aos poucos, de forma consciente, reduzindo a informação que dava sobre mim. Não mentia, ou escondia nada, apenas não voluntariava muita informação a não ser que me fosse explicitamente pedida. Assim, enquanto os pais dos meus amigos sabiam os nomes de todos os seus amigos e exactamente quem eram, eu normalmente mencionava apenas que estava com amigos, enquanto que quando viajávamos os meus amigos ligavam para casa pelo menos uma vez por dia, eu orgulhava-me de passar dias sem ligar.

Como um mecanismo de defesa ou não, comecei a alimentar esta ideia de “independência”, onde eu vivia com as pessoas, tinha amigos e família de quem gostava, mas na verdade não precisava de ninguém.

Como estava a dizer, foi nessa altura que comecei a encontrar conforto nas palavras. Nem sempre sabia como descrever os meus pensamentos, ainda menos os meus sentimentos, mas apaixonava-me por frases ou expressões que o faziam.

Os meus cadernos dessa altura estavam repletos de frases como “Nunca dependas de ninguém”1, “Só sabes sobre mim o que eu quero que saibas, e a tua preocupação, apesar de comovente, é desperdiçada em mim”2, “As pessoas desiludem-te, mais cedo ou mais tarde, desiludem-te sempre… não é que o queiram fazer, é apenas a sua natureza”3, “É melhor seguires o teu caminho sozinho, reconheceres que estás por tua conta”4, “Sempre me interessei por pessoas, mas na verdade nunca gostei delas”5

Eu era, para todos os efeitos, uma miúda bem ajustada, tinha boas notas, fazia parte de uma equipa desportiva, tinha muitos amigos, vivia bem na presença de outras pessoas, apenas não sabia viver com   elas.  Era como se houvesse uma dimensão paralela, estávamos lado a lado, mas eu nunca deixava que a minha intimidade fosse tocada.

Não sei exactamente quando isto aconteceu, mas criei um muro à minha volta, e orgulhava-me disso. Confundi o meu distanciamento com independência, e a minha armadura como força. Racionalizava cada interação, compartimentava as emoções à medida que as pessoas entravam e saíam da minha vida, e convencia-me que estava sempre bem, porque eu não precisava de ninguém. Devo ter repetido isso a mim mesma tantas vezes que chegou a uma altura que deixei de o questionar.

Foi assim durante anos, até que aos poucos comecei a notar pequenas coisas…

Notei que quando viajava, as minhas memórias mais especiais eram das pessoas que tinha conhecido.

Notei que ao contrário de muitas pessoas que tinham tido experiências semelhantes à minha, eu era das poucas que mantinha contacto com os amigos que tinha conhecido lá fora.

Notei que desde pequena uma das minhas grandes dificuldades era ver alguém a sofrer e não saber como ajudar.

Notei que lidava bem com o estar longe, mas que gostava dos reencontros.

Notei o poder de pequenos gestos como um sorriso, um piscar de olhos, um abraço.

Notei que as pessoas que eu admirava por serem fortes e independentes não eram desligadas ou frias, e que mais do que a sua auto-suficiência, o que realmente me atraía nelas era a sua vulnerabilidade e empatia.

E assim aos poucos mudei a minha perspectiva, e mudei completamente de opinião, porque percebi que a capa que eu vestia orgulhosamente de independência não era mais do que um escudo, e que o verdadeiro empoderamento não vem da distância que criamos em relação aos outros, mas da capacidade de viver em harmonia com eles. Quer isso dizer que de repente me tornei mais aberta ou interessada em partilhar a minha vulnerabilidade? Bem… é um processo a decorrer.


1 & 2 Andrea Parker as Catherine Parker In Pretender
3 Autoria própria
4 Idina Menzel as Florence Vassy In Nobody’s on nobody’s side - Chess: In Concert
5 W. Somerset Maugham

No comments :