Wednesday, March 25, 2020

A childhood memory / Uma memória de infância (Day5)


Note 1: While being quarantine, in an effort to try to prevent my brain to turn into mush I'll try to complete a 30 Day writing challenge. Each day I'll get a prompt about which I should write. 

Nota 2: versão portuguesa mais abaixo.


I was an active kid, I had my fair share of scrapped knees and broken tights, I spent recess playing catch or ball with the boys, I was even friendly with the “trouble makers”, but I’ve always been a rule follower. I thrived at following rules, I was always the “good girl”, I didn’t take unnecessary risks, every decision was calculated. I guess part of it was innate, it was just who I was, but the other part was that… in the rare occasions I decided to take a chance, results didn’t tend to be great…

When I was about 9, I was at my backyard on the swings, alone, no one was looking, I was feeling brave… so I decided to break the rule and do what every kid does a thousand times during childhood and jump off the moving swing. To be fair, it was barely moving, but I was a rule follower and I had heard over and over I had to wait until it stopped so I wouldn’t get hurt… But no one was looking, and I was feeling brave. I regretted my decision the moment my body hit the ground. I laid there, flat, and I remember thinking to lower my head so not to have the swing bump into it.

My dad was just a few feet away, completely unaware of my fall and I refused to release the tears that flooded my eyes. At that very moment I’m not sure what hurt the most – my wrist or my pride.

I took a deep breath, got up and dusted myself off. I didn’t feel I have the right to cry, I made a choice, I had to accept the consequences. Stoically I walked right by my dad, the whole time thinking “Why the hell didn’t I listen? Why did I jump?”, but I didn’t say a word. I walked home and looked for my mom, hurting, but not crying (it was my fault), when I finally found her, I told her I was hurt and I fainted!

They took me to the hospital, the first and only time I ever went to the emergency room for an injury. Because I had fainted my mom worried I had a concussion, but I was sure I had followed THAT rule and protected my head (I wasn’t going to go 2 for 2 on the same day!). They must have given me something for the pain, or maybe it was the adrenaline, the only thing I remember from the ambulance ride as they transfer me to another hospital is that I was talking the WHOLE time. I don’t remember any pain, to be honest, I don’t remember much at all after that.

When my body finally hit the bed that night something else was troubling my mind… You see, I was always a terrible sleeper, so from a very young age I learned to control my dreams. I would go to bed, come up with a story, think very hard about it and this way I would dream about it instead of having nightmares. The thing was that one recurrent topic of my (intentional) dreams was me being hurt in some way* (usually trying to save someone) – like being hit by a car, or falling down a abyss, being attacked by a robber – the ending was always good, but occasionally with some injuries, quite often, because I was 9 and didn’t know many others, in my dreams I ended up with a broken arm.

So when I finally get home and the reality of it all started to sink in, a wave of guilt came over me, as I wondered if dreaming about it had caused my injury. As my mom was leaving the room I asked her, without offering any details, if things happened because we dreamed of it… she probably thought it was the drugs talking.
All of this happened in the summer, which meant that according to the doctors I was not allowed in the swimming pool or the beach. Luckily for me, my mom is much better at breaking rules than I ever was so she would wrap my cast in cling wrap and to the water I went.

About a week after I took off my cast we were at the beach with the whole family, in Algarve, and we had rent these pedal boats we used to ride every year, except on that year the innovation factor was that they came with an attached slide.

We were having great fun sliding down until my older brother decided it was even more fun if instead of sliding sitting down, he would stand on the slide (on a moving pedal boat) and jump down to the water, clearly against all safety rules. Obviously, I decided I should try too… So I was standing there, trying the best to keep my balance when a small wave approached, with the best intentions my dad reached for my ankle to hold me, but instead pulls on it and completely cut me off… Needless to say I went down flying, not only hitting the water hard, but hitting the boat on my way down… I swear my first thought before even coming back to the surface was… “I broke my arm again!”.

Luckily, I didn’t… I got a scar that lasted a few years, but eventually faded away.

After that I went back to following rules, before I’d kill myself.

* I later found out there’s a name for it, Lachesism, the desire to be struck by disaster,




Uma memória de infância

Nota 3: Enquanto estou em quarenta, e numa tentativa de impedir que o meu cérebro se transforme em papa vou tentar completar um desafio de escrita de 30 dias. Cada dia terá um tópico sobre o qual deverei escrever. 

Quando era pequena era uma miúda activa, rasguei muitos collants, os joelhos andavam sempre esfolados, passava os intervalos a jogar Cirumba e à lata com os rapazes, até me dava com os “rufias” da escola, mas cumpria sempre as regras.

Era a menina certinha, não tomava riscos desnecessários, todas as decisões eram calculadas. Parte acho que era mesmo a minha personalidade, a outra parte é que nas raras vezes que decidi arriscar e sair do risco as coisas não me correram muito bem…

Um dia, quando tinha cerca de 9 anos estava no jardim de casa, a andar de baloiço sozinha. Ninguém me estava a ver e eu senti-me corajosa… por isso decidi quebrar as regras e fazer aquilo que todos os miúdos fazem mil vezes durante a sua infância, saltar do baloiço em movimento. Para dizer a verdade, o baloiço estava praticamente parado, mas eu era uma seguidora de regras e tinha ouvido vezes sem conta que tinha de deixar o baloiço para antes de sair para não me magoar… Mas ninguém estava a ver, e eu senti-me corajosa. Arrependi-me da minha decisão no momento que o meu corpo se tocou no chão! Ali fiquei, estatelada, e lembro-me de ter o cuidado de baixar a cabeça para não levar com o baloiço.

O meu pai estava apenas a uns metros de distância, na jardinagem, e nem reparou e eu recusei-me a chorar. Naquele momento nem sei o que me doía mais – o meu pulso ou o meu orgulho.

Respirei fundo, levantei-me e sacudi a terra da minha roupa. Não me sentia no direito de chorar, tinha desobedecido às regras agora tinha de aceitar as consequências. Estoicamente, dirigi-me para casa, passei pelo meu pai, o tempo todo a pensar “Porque é que não ouvi? Porque é que resolvi saltar?”, mas não lhe disse nada. Quando entrei em casa procurei pela minha mãe, cheia de dores, mas ainda a conter o choro (a culpa tinha sido minha), quando finalmente a encontrei expliquei o que tinha acontecido e desmaiei.
Levaram-me para o hospital, a primeira e única vez na minha vida que fui para o hospital por uma “lesão”. Como tinha desmaiado, a minha mãe estava com receio que tivesse um traumatismo craniano ou algo assim, mas eu tinha a certeza que ESSA regra eu tinha seguido – tinha protegido a cabeça (não ia desafiar duas regras de seguida!). Devem-me ter dado alguma coisa para as dores, ou talvez fosse a adrenalina, a única coisa que me lembro da viagem de ambulância até ao hospital para onde me transferiram é que não me calei um bocado! Não me lembro das dores, na verdade não me lembro de muito a partir desse momento.

Quando finalmente chegámos a casa outra coisa me preocupava… Sempre dormi mal, sonhava muito, tinha muitos pesadelos, por isso desde muito cedo aprendi a controlar os meus sonhos. Ia para a cama, inventava uma história, pensava nisso com muita força e acabava por sonhar com isso. O problema é que um dos temas recorrentes dos meus sonhos (intencionais) era eu acabar magoada de alguma forma* (normalmente a tentar salvar alguém) – por exemplo era atropelada por um carro, caía de um precipício, era atacada por alguém violento – o final era sempre feliz, mas sempre com algumas mazelas, muitas vezes, até porque era miúda e não sabia muito mais, o resultado era um braço partido.

Assim, quando nessa noite cheguei à cama e a realidade se começou a entranhar, fui inundada por uma onda de culpa, pois comecei a perguntar-me se era por ter sonhado isso tantas vezes que se tinha tornado realidade. Sem oferecer grandes detalhes lembro-me de perguntar à minha mãe antes dela sair do quarto se sonharmos com alguma coisa fazia com que se tornasse realidade… ela provavelmente pensou que eu já tinha tomado remédios a mais.

Tudo isto aconteceu no verão, ou seja, fiquei proibida pelos médicos de ir à piscina ou à praia por causa do gesso. Felizmente para mim, a minha mãe era muito melhor a quebrar regras do que eu, e por isso embrulhava-me o braço em película aderente e mandava-me para a água.

Pouco tempo depois de tirar o gesso, fomos de férias para o Algarve com toda a família e tal como era tradição alugámos aquelas gaivotas a pedal para andar no mar. A novidade desse ano era que as novas gaivotas agora tinham um escorrega incorporado.

Foi um sucesso, estávamos super divertidos, a descer o escorrega quando o meu irmão se lembrou que seria ainda mais divertido, se em vez de nos sentarmos e escorregarmos para a água, nos puséssemos em pé em cima do escorrega (numa gaivota em pleno mar) e saltássemos para a água. Isso era claramente uma má ideia, e contra todas as regras, mas nenhum adulto se opôs, e claro que depois de ele experimentar com sucesso eu quis tentar também. Subi as pequenas escadas, pus-me em pé em cima do escorrega, tentei manter o equilíbrio e nisto uma pequena onda aproxima-se. O meu pai cheio de boas intenções agarra-me o calcanhar para me estabilizar, só que acaba por puxá-lo e… claro está fui a voar em direção à água batendo com o corpo em várias partes da gaivota pelo caminho. Imediatamente senti uma dor enorme no meu braço, e juro que antes de vir ao de cima já estava a pensar “Parti o braço outra vez!”.

Felizmente não…. Fiz um enorme arranhão e fiquei com uma cicatriz durante anos, mas que acabou por desaparecer.

Depois desse dia decidi voltar a seguir as regras antes que acabasse por me matar.


* Supostamente parece que existe uma coisa chamada lacheism, que é o desejo de ser atingido por um desastre.

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