Sunday, September 15, 2019

This time / Desta vez


Nota: Versão portuguesa mais abaixo
                                                  
                        
It all started with a phone call, just like last time… after all that’s often how it starts, isn’t it?

You hear the shaky voice on the other side of the line, you take in the news, which aren’t really all that clear, and you hang up.
You breathe deeply, you feel your heart racing a bit more than you should, but you shake it off and regain your composure.

This time is different, this time there’s still a chance that it’s nothing, this time there’s room for hope.
You jump in the car and it feels like déjà vu… stuck in a car again, just like last time, except last time you had to drive for endless hours and this time is different, this time there’s still a chance that it’s nothing.

A couple phone calls as you ride and by the time you get there, you’ve jumped on auto pilot and practical mode.
You wait patiently and the answers come faster than you expected. You look at the doctor, you see her mouth moving, but you can barely make sense of her words. It’s all so fast, one moment she’s there, the next she’s gone.

You think she delivered good news, but with her big words and quick pace, she didn’t do much to comfort you.

More people arrive…. each with their own set of questions, everyone undoubtedly scared but most doing their best to mask it and assure the others that everything will be fine. We all keep a straight face, we joke and laugh and we push through because that’s who we are. In the face of fear, in the face of danger, in the face of pain… we push through, we stick together and we push through.

Time goes by, little by little pieces of information are put together and the message seems a bit clearer. After they finally see her everyone relaxes just a little more… this time is different. I don’t need to see her, I see it in their eyes, this time is different.

The day is long, my knees hurt from standing all day and my neck is stiffer than usual, but when I finally get home I need to get out again. I need to walk it off. I’m not sure if what washes over me is relief or adrenaline or some other feeling I can’t identify, but I can’t stay still, I feel strangely energized.

Everything can change with a phone call, just like it did last time… but this time we were lucky, this time it was just a scare. This time it WAS different.


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Desta vez


Tudo começou com um telefonema, tal como da última vez, afinal normalmente é assim que tudo começa, não é?

Do outro lado da linha ouves uma voz tremida, absorves as notícias, ainda que pouco claras e desligas.

Respiras lentamente, sentes o teu coração a bater um pouco mais rápido do que o costume, mas depressa te recompões.

Desta vez é diferente. Desta vez há uma hipótese que não seja nada. Desta vez há espaço para a esperança.

Entras no carro e há uma estranha sensação de deja vu... presa num carro novamente, tal como da última vez, apesar de que na última vez tiveste passaste horas na estrada... e desta vez é diferente. Desta vez há uma hipótese que não seja nada.

Mais umas chamadas enquanto estás no carro e quando lá chegas entras em modo prático, piloto automático.

Esperas pacientemente por respostas, que chegam mais rápido do que esperavas. Olhas para a médica, vês a sua boca a mexer, mas torna-se difícil perceber o que diz. É tudo tão rápido, um momento está lá, no momento a seguir já se foi.

Achas que te deu boas notícias, mas com as suas palavras caras e o seu ritmo acelerado, é difícil ter a certeza.

Chegam mais pessoas... cada um com o seu leque de perguntas, todos sem dúvida assustados mas a maioria a dar o seu melhor para manter uma aparência tranquila e confiante. Todos mantemos a postura, por nós próprios e por quem nos rodeia, rimos, conversamos e fazemos piadas, empurramos a bola para a frente, porque é assim que somos. De caras com o medo, de caras com o perigo, de caras com a dor... empurramos a bola para a frente. Mantemo-nos juntos e empurramos a bola para a frente.

O tempo passa, e aos poucos os pedaços de informação vão se aglutinando e a mensagem fica mais clara. Depois de a verem ficam todos mais descontraídos... desta vez é diferente. Eu não preciso de vê-la, vejo-o nos olhos deles, desta vez é diferente.

O dia é longo, os meus joelhos doem de estar em pé tanto tempo, e o meu pescoço está mais tenso do que é habitual, mas quando chego a casa sinto uma necessidade imediata de voltar a sair. Preciso de andar. Não sei se o que sinto é alívio ou adrenalina, ou um qualquer outro sentimento que não sei identificar, mas não consigo ficar parada, sinto-me estranhamente energizada.

Tudo pode mudar com um telefonema, tal como da última vez, mas desta tivemos sorte, desta vez foi só um susto. Desta vez foi diferente.


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