Sunday, July 15, 2012

Saudades desses tempos


Saudades dos tempos em que corríamos para o telemóvel  para que, apesar de não estarmos juntas, pudessemos ver um  videoclip em conjunto. Quando uma sms não era precisa e um toque bastava para nos fazermos entender. Dos olhares confusos que nos lançavam quando de entre cinquenta canais conseguíamos descobrir o correcto. Da alegria que  aquele pequeno momento nos proporcionava. Éramos nós as únicas a fazer isto?

Saudades das horas passadas ao telefone durante as horas de almoço, no pouco tempo em que íamos a casa e não estávamos juntas. Dos almoços, dos passeios e mais tarde das viagens em que nos aventurámos. Das maluquices, dos desgostos, das gargalhadas que se soltavam por mais que tentassemos conter. Das pessoas que se tentavam opor e acabavam por se juntar a nós. Quem se lembra?

Saudades das promessas de amizade eterna. Das dedicatórias escritas todos os anos em blocos e cadernos. Dos questionários de mil e uma perguntas.  Das canetas de cores e dos cadernos organizados. Das assinaturas elaboradas e das personagens idolatradas.Dos concertos, das saídas de grupo, dos jantares de turma e de aniversário. Também os tiveste?

Saudades das brincadeiras tontas que ainda hoje não apagámos da memória. Das tardes passadas com a televisão em mute a passar videos de rap enquanto ouvíamos música pop na aparelhagem. Dos teatros, das músicas e das novelas que criávamos, gravávamos e editávamos. Das noites que passámos acordadas, das festas do pijama. Alguém consegue esquecer?

Saudades de odiar as férias e de querer voltar à escola. Do conforto de passar o dia inteiro com as mesmas pessoas, dos professores conhecerem os nossos medos, de adiar os testes vezes sem conta. De passar os intervalos na sala a jogar às cartas versões de jogos inventadas por nós. De escrever cartas a pessoas que viviam a menos de 5km de nossa casa. De não querer ir para a faculdade para não perder os amigos. Quem mais sentiu isso?

Saudades de ter mais de três meses de férias, do natal, da páscoa e do carnaval. Das apostas feitas com as notas dos testes. De quando os professores se tornavam amigos, mentores. Do descaramento em ajudar os colegas nos testes, das respostas passadas em lenços de papel. De ter ideiais, de querer mudar o mundo, de fazer a diferença. Quem partilhou estes momentos?

Saudades de ter uma equipa que para o bem e para o mal estava contigo. De lutar lado a lado com aquelas pessoas, de ter algo que nos unia mesmo que para mais ninguém fizesse sentido. De cair, lutar, chorar mas nunca desistir. De acreditar, e com cada época novo alento ganhar. De ter uma paixão, uma vida, um mundo que nos ensinou a crescer. Quem não sente falta?

Saudades do tempo em que acreditávamos em perfeição, onde tinhamos modelos, idolos que nos faziam sonhar. De sermos cinco e sermos mais equipa do que qualquer outro plantel. De nos desprezarem e de isso nos dar mais força. De vencer, de perder, de treinar mas acima de tudo jogar. Ainda te lembras do que se perdeu?

Saudades dos momentos de balneário. Dos banhos ao monte, dos chuveiros partilhados. Das roupas emprestadas, perdidas, “roubadas”. Das irmãs, mães e amigas, da família que nos rodeava. Dos trambolhões, das dores, das nódoas negras. Dos “suícidios”, das corridas esbaforidas, das revoltas. Alguma vez pensaste sentir falta?

Saudades boas, daquelas que nos fazem sorrir apenas com uma lembrança. Saudades das amizades, das irmandades e das qualidades de ser criança. Saudades do que um dia doeu mas que deixou boa marca, saudades do que nos fez chorar mas já não magoa, saudades de querer acreditar que o melhor está por vir. Saudades não de quem quer voltar atrás no tempo, mas de quem tem boas memórias. De quem apesar de ser solitária tem momentos brilhantes com quem partilhar.

2 comments :

Rita said...

Li este post a sorrir, porque revi-me em muitas destas 'estórias'. Nunca gostei muito de mudanças, mas elas acontecem, quer queiramos quer não. Por isso acabamos por aceitar. Agora o que tem que prevalecer, ou devia, é continuarmos a estar com quem já partilhámos tantas coisas, mesmo que de uma forma diferente. Tu consegues fazê-lo? Eu gostava de o fazer mais... Acredita.

sol said...

Gostei tanto...