Nota: Versão portuguesa mais abaixo
Today was intense.
It’s hard to explain what we do,
I don’t think most people get it, and to be honest it’s quite hard to define
the scope of our work.
Everyday is different and yet
there’s a familiarity that comes from knowing each and every single kid, so
rarely you get surprised by their (re)actions. We’ve fallen into a good rhythm,
there’s a high level of trust and respect and joy in each other’s presence that
allows things to go smoothly, but every once in a while, there’s a day where
everything seems to happen at once.
Today was busy from the star,
with online meetings and presentations… and the kids are good in understanding
and respecting that part of our work too, but as soon as they saw a window…
everything came crashing.
A 10-year-old burst out crying
because she feels overwhelmed with the pressure at home. She cried “I’m tired
of my life, they yell at me, so I’m always nervous. I think I need to speak to
a psychologist to talk about what’s inside my mind”.
A 13-year-old who has faced his
own share of abuse, came asking for advice for an older colleague who recently
ran away from home and about whom he is worried about. His words, “I have to
sleep with this worry for the next few days, but there’s nothing I can do to
help him, it’s like I have this sorrow inside of me”. The same kid arrived from
class with a piece of folded paper in his pocket that he handed to me. In it, he
had to write about the most difficult moment of his short life and how he had
overcome it. Not surprisingly, he wrote about the loss of his mom at a young
age… how he still hasn’t been able to move past it, how he keeps asking God why
he had to lose her, he also shared how ashamed he is of not being able to
protect her. He wrote how when he heard the news he laughed, because his 8-year-old
mind couldn’t believe it was true.
A 16-year-old asked for help finding
a job because she’s tired of feeling like everything falls on her mom. She said
“I watch my stepfather work two jobs and help support my siblings, but I don’t
have that, so I feel alone”.
Someone told me recently, when I
was troubled about one of the kids, that my problem is that I get too close to
them and so they tell me everything. And there’s some truth in it. I do hear
things that I often don’t know how to respond to, I do carry home worries, I do
get calls and messages at weird times or when I’m off work (only when it’s
important), but what is the alternative? Closing myself off so they keep their
troubles to themselves?
Some days are more intense than
others, but if listening helps lightning their load, I’ll take it every time. And
it’s not because I don’t know how to keep a distance - I’m the queen of isolation
– it’s because I chose not to. Not because I’m extraordinary or a martyr, it’s
because it’s a privilege. It’s because there’s a cycle of trust and care that goes
both ways. And every inch I give, they
give right back to me.
Sure, it’s hard to cope with things
sometimes, but do you know what also happened today?
In the midst of all the commotion,
I got called outside to find one of my 8-years-old teaching one of my 6-years-old
riding a bike on her own for the first time ever. He told her “Ignore people
looking at you. You can do it. Don’t look at them” has he made sure to stay
close and help her out whenever it looked like she might fall.
Later, one of my most shy
teenagers, a girl who carries the weight of the world on her shoulders and often
carries a sad look on her face, came in smiling asking to speak with me. She
wanted to tell me how her teacher had taken them to a preschool where they got
to ran activities for little kids and how much she enjoyed it.
Also, our oldest girl, who when we
met, 5 years ago, was constantly skipping school, is graduating this week! And
two of the other older kids recently decided to take on the challenge to
educate the little ones about good manners and greetings.
On Monday I went back after 3
weeks off work… One 11-year-old almost tackled me to the ground on my first day
back, and another asked me “Why did you have to be gone for 5 whole weeks?”, I
told him it was only 3… he shrugged and said “It felt longer!”.
I don’t always know what I’m
doing, and I can rarely explain it properly to other people, the only thing I’m
certain of, is how lucky I am to do what I do.
Hoje foi intenso
Hoje foi intenso.
É difícil explicar o que fazemos, acho que a maioria das pessoas não
consegue perceber e, para dizer a verdade é difícil definir o alcance do nosso
trabalho.
Todos os dias são diferentes e, apesar disso, há uma familiaridade que
resulta de conhecer a fundo cada um dos miúdos e por isso raramente ser
surpreendida com as suas (re)ações. Temos um bom ritmo, há um elevado nível de
confiança, respeito e acima de tudo de prazer em estarmos juntos que faz com que
as coisas corram tranquilamente, mas de vez em quando surge um dia em que
parece que tudo acontece ao mesmo tempo.
Hoje foi um dia preenchido desde a manhã, com reuniões e apresentações online…
os miúdos percebem e respeitam essa parte do nosso trabalho, mas assim que
tiveram oportunidade…
Uma miúda de 10 anos rebentou num pranto porque se sente assoberbada com a pressão
em casa. Soluçava “Estou cansada da minha vida, gritam comigo e por isso estou
sempre nervosa. Acho que preciso de falar com um psicologista [sic] sobre
as coisas que estão na minha mente”.
Outro miúdo, de 13 anos, ele próprio com um historial de abusos, chamou-me
para pedir conselhos para um colega mais velho que aparentemente fugiu de casa
e com o qual está preocupado. As suas palavras foram “Tenho de dormir com esta
preocupação durante os próximos dias. Eu sei que não posso fazer nada para o
ajudar, mas é assim um sentimento de aflição que tenho cá dentro”. O mesmo
miúdo chegou da escola e entregou-me um pedaço de papel dobrado. Nele tinha de
completar um exercício onde devia descrever o momento mais difícil da sua curta
vida e como o tinha ultrapassado. Sem surpresas escrevera sobre a morte da sua
mãe, quando ele era ainda criança… Escreveu que ainda não tinha conseguido
ultrapassar isso e que continuava a falar com Deus para tentar perceber porque
é que isso tinha acontecido. Escreveu ainda que se sente envergonhado por não
ter sido capaz de proteger a mãe e confessou que quando lhe deram a notícia se riu,
por muito mau que isso pareça, pois a sua mente de 8 anos não conseguia
acreditar no que estava a ouvir.
Uma jovem de 16 anos pediu ajuda para procurar um trabalho porque diz que
está farta de sentir que tudo recai sobre a mãe. Disse “vejo o meu padrasto a
ter dois trabalhos para sustentar os meus irmãos, mas eu não tenho isso, por
isso sinto-me muito sozinha”.
Disseram-me, não há muito tempo, quando estava preocupada com um dos miúdos,
que o meu problema é ter uma relação demasiado próxima com eles. E há alguma
verdade nisso. Eu oiço confissões para as quais nem sempre tenho resposta,
frequentemente trago preocupações para casa, e recebo telefonemas e mensagens a
horas menos próprias ou quando estou de férias (só quando é importante), mas
qual é a alternativa? Fechar-me para que eles não partilhem os seus problemas?
Há dias mais intensos que outros, mas se ouvi-los ajuda a aliviar a carga
que carregam, fá-lo-ei sem hesitações. E não é por não saber manter a distância
– eu sou a rainha do isolamento – é por escolher não o fazer. Não porque sou
extraordinária ou um mártir, mas porque o considero um privilégio. Porque há um
ciclo de confiança e preocupação que funciona reciprocamente. E tudo o que lhes
dou, eles me dão também.
Sim, há dias em que é difícil gerir algumas situações, mas sabem o que é
que também aconteceu hoje?
No meio do caos chamaram-me à rua para ver um dos miúdos de 8 anos a ensinar
uma de 6 a andar de bicicleta sozinha pela primeira vez. Ele dizia-lhe “Ignora
as pessoas que estão a olhar para ti. Tu consegues. Não olhes para elas”,
enquanto se mantinha por perto e a ajudava sempre que parecia que ela ia cair.
Pouco depois, uma das minhas adolescentes mais tímidas, uma miúda que
carrega o peso do mundo nos ombros e uma tristeza no olhar, pediu para falar comigo.
Queria-me contar que uma das professoras os levou a uma creche onde puderam
fazer atividades com as crianças e ela adorou.
A nossa jovem mais velha, que quando nos conhecemos, há 5 anos, faltava
frequentemente à escola vai terminar o 12º ano e pediu para que fosse madrinha
do seu baile de finalistas. E outros dois dos nossos jovens mais velhos
decidiram abraçar o desafio de ensinar regras de etiqueta e boa educação aos
mais pequeninos.
Na segunda-feira, quando voltei ao trabalho depois de três semanas de
férias, um dos miúdos de 11 anos quase me deitava ao chão com a força de um
abraço, outro perguntou-me “Porque é que não vieste durante 5 semanas?”, eu
disse-lhe que tinham sido só 3… ele encolheu os ombros e disse “Pareciam mais!”.
Nem sempre sei o que estou a fazer, e raramente consigo explica-lo
devidamente a outras pessoas, a única certeza que tenho é do quão sortuda sou
por fazer o que faço.
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