Parecem cada vez mais comuns estes jogos de palavras, a atenção que por
vezes se dá a cada detalhe. Confesso que a análise exagerada me incomoda, e que
creio que por vezes se criam problemas onde não existem, mas este caso
parece-me de alguma forma diferente.
Numa altura em que cada vez mais as pessoas se preocupam com o que é
“politicamente correcto” são cada vez mais raras expressões que outrora eram
comuns por serem consideradas agora impróprias ou ofensivas. Concordo com
algumas das mudanças, sinal de evolução, outras confesso achar excesso de
preciosismo. Continuo a acreditar que muitas vezes, mais do que as palavras que
usamos importa a intenção com que as usamos, ainda assim as palavras proferidas
são importantes e por isso importa por vezes tirar algum tempo para reflectir
sobre elas.
É muito comum ouvir falar de pessoas deficientes, apesar de haver já vozes
que se fazem ouvir sugerindo ao invés a expressão “pessoa portadora de
deficiência”. À primeira vista a diferença pode não parecer muita, modernices,
dirão algumas pessoas. Não considero a expressão “pessoa deficiente”
necessariamente ofensiva ou sequer pejorativa, mas então porquê começar a
utilizar a expressão “pessoa portadora de deficiência”? Não é a mesma coisa,
alguém perguntava no outro dia? E a verdade é que para mim é aí que está a
diferença. Para mim o facto de falar de “pessoa portadora de deficiência” em
vez de “pessoa deficiente” não é uma questão de ser mais educado ou socialmente
aceite, para mim é realmente importante pois são expressões com dois
significados distintos.
Ainda que muitos já não utilizem o termo deficiente de forma depreciativa e
pejorativa, dizer que uma pessoa é deficiente é reduzir a sua existência à
deficiência quando, não só isso não é verdade, como muitas vezes não é também o
que tencionamos dizer. A deficiência é parte integrante de uma pessoa e
representa certamente um papel na sua identidade, mas não a define. A expressão
“pessoa deficiente” é limitativa. Ainda que não seja utilizada com essa intenção,
a pessoa a quem se dirige ouve repetidamente que é deficiente, quando é tão
mais do que isso.
A pessoa portadora de deficiência tem, como todos nós, imensas capacidades
e características que no seu conjunto a tornam na pessoa que é. Definir uma pessoa
como deficiente é focarmo-nos apenas num desses traços. As palavras repetidas,
ouvidas desde a infância e ao longo dos anos, têm um forte impacto na forma
como criamos uma representação de quem somos, por isso considerar importante
que não propaguemos a ideia de que uma pessoa é deficiente.
É mais simples dizer que alguém é deficiente do que utilizar a expressão
“pessoa portadora de deficiência”, confesso que ainda cometo esse erro algumas
vezes, mas pessoalmente é algo que procuro corrigir. Não por uma questão de ser
mais aceite, mas por acreditar no poder das palavras e querer usá-las com o
rigor que as ideias que quero transmitir merecem.
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